*Priscila Oliveira
Bicampeã da Maratona Internacional de São Paulo, campeã da Maratona do Rio e medalhista de bronze na maratona dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, no Canadá, ao longo da década de 90. Esses são apenas alguns títulos que fizeram com que Viviany Anderson deixasse sua marca na história do atletismo. Porém, a ex-competidora de provas de longa distância e treinadora juiz-forana se orgulha mesmo é do trabalho que desenvolve junto a crianças e adolescentes da cidade.
Um dos mais conhecidos é o Ligeirinhos, projeto social que utiliza a garagem de sua própria residência como ponto de encontro, no bairro Filgueiras. É nesse espaço que os alunos, com idades de 4 a 16 anos, participam de diversas atividades de recreação e iniciação à corrida de rua. “Limitamos a 40 crianças, por conta do transporte. Como também participamos de corridas na região, esse é um número que nos permite atender melhor a cada uma. Elas treinam de segunda a sexta-feira, recebem lanche, fazem passeios e ainda participam de ‘promoções’ para quem tira boas notas na escola”, explica.
Apesar do reconhecimento por onde passa, a atleta conta que seu “nome”, experiência e engajamento com a causa não são suficientes para obter patrocínios e apoios. Na maioria das vezes, são os recursos pessoais, frutos de aulas como personal trainer e alguns serviços de transporte, que possibilitam essa continuidade. Por outro lado, ela faz questão de destacar e agradecer pelo auxílio recebido do Plasc, Camilo dos Santos e Sítio Vovô Riani há anos, e a contribuição generosa de algumas mães, que estão sempre a postos para ajudar na produção dos lanches e na limpeza do local. “Nunca fui de ficar esperando nada; sou de fazer. Muita coisa sai do meu bolso, para complementar. Mas, faço com amor e dedicação, porque é um trabalho de entrega, de missão. O retorno que tenho é ver as crianças crescerem com responsabilidade, disciplina e consciência ambiental. É saber que, de alguma maneira, contribuo com a sua formação global – na parte física, psicológica etc. As encorajo a não terem medo, irem para cima dos desafios e serem felizes”.
Sustentabilidade e valores
Por falar em consciência ambiental, é através da reciclagem que o Ligeirinhos também consegue se manter. “Antes da pandemia, a gente já pagava água, luz, material de limpeza e até lanche com dinheiro do reciclável. Nossa geladeira, que é usada, foi comprada com a venda do material que os alunos reciclam em casa. E também fazemos isso em outros lugares. Na Meia Maratona de Juiz de Fora, inclusive, eu e algumas mães pegamos quase 20kg de plástico que iam para a natureza. Juntei com 2kg de latinha e de recipiente de desodorante, e conseguimos R$ 60, que ajudaram a comprar lanche. Até o plástico que envolve as garrafinhas de água vira dinheiro. As cascas de frutas vão para compostagem e viram adubo orgânico. Tudo vira coisa boa”, destaca.
Graduada em Educação Física, Viviany salienta que não teve interesse em fazer mestrado ou doutorado na área por não querer ficar limitada à sala de aula. “Desde 1992, quando estava começando a correr e fui para a seleção brasileira, eu já levava crianças e adolescentes do bairro São Pedro para treinar onde atualmente é a Faculdade de Engenharia da UFJF. Tenho vários ex-alunos que dizem ter se espelhado em mim, que correram atrás e conseguiram mudar suas vidas. Nosso projeto ensina muitos valores, como esse da reutilização. É um trabalho de conscientização que fazemos não só com as crianças, mas também com os pais”.
Arrecadação na Corrida da Camilo
Neste final de semana, aproveitando a programação da 10ª Corrida Camilo dos Santos, os Ligeirinhos não só vão participar dos desafios infantis como realizar uma ação para arrecadar materiais esportivos para os alunos. A preferência é por tênis, shorts, bermudas e calças legging, uma vez que eles já possuem camisas de uniforme para usar nos treinos e eventos. Quem quiser doar, pode procurar a tenda da equipe no Centro de Futebol Zico, tanto no sábado, 17, à tarde, quanto no domingo, 18, durante a prova principal. Os materiais recicláveis da corrida também serão coletados.
“É um trabalho social, que me retorna principalmente em forma de gratidão e amizades. Essa é a hora que as crianças tem para aprender, estudar e brincar. A corrida não pode ser uma disputa com rivalidade – precisa ser algo saudável. Estou nessa estrada há mais de trinta anos, sempre incentivando, proporcionando ensinamentos e passando minha experiência para elas. Fico muito feliz com isso”, conclui Viviany Anderson.